É incrível como me sinto quando chega sexta-feira. Mesmo sabendo que dificilmente terá alguma coisa interessante para se fazer no fim de semana, fico “mais faceiro que gordo de camiseta nova”. Saio de casa em direção à faculdade por volta das 17h, sendo que a aula começa às 19h. Atolando na lama em dias de chuva ou comendo poeira nos dias de sol. Assim como a maioria dos estudantes deste país, o ônibus é minha condução diária. Deixando de lado o fato de que em 99% das viagens você vai em pé, ou de ficar sabendo com quem a filha da senhora que está sentada ao seu lado casou, ou com quem a vizinha da menina da poltrona em frente traiu o marido, a viagem geralmente é sossegada.
Chegando no centro, entro em algum dos botecos que ficam em frente ao terminal de ônibus, e sou praticamente obrigado por meu estômago, célebre fã de alimentos pouco saudáveis, a saborear uma deliciosa coxinha de frango. É, aquela mesmo, quase torrada por fora e crua por dentro, que gruda no céu da boca, mas te leva a um orgasmo alimentar. Para a digestão, um copinho de café com leite, daqueles servidos em copos de cachaça, o que é bom, pois como raramente são lavados, de vez em quando seu café vem “calibrado” com um restinho de pinga.
Saio do boteco, ando algumas quadras, e finalmente chego à faculdade. Ao chegar, sou recebido com a simpatia quase nordestina do seu Neri, vigia da instituição desde o tempo em que Michael Jackson era negro. Desligo o mp3, que provavelmente estava torturando meus tímpanos com alguma coisa tipo Skatalites, ou algo mais "meigo" como Terror. Pronto, estou em casa. Puta ambiente pra me animar! Acho que mais animado que na faculdade, só fico em uma cama com duas suecas peitudas e uma caixa de Guinness ao lado. Alguns podem pensar “bem típico de calouro essa animação”. Pode até ser, mas quem um dia não foi calouro?
Olho no relógio, 22h30, hora de ir pra casa. Pra casa? O caralho! Agora que vai começar a noite. O destino? Expressinho, um bar a duas quadras da faculdade, onde a juventude cristã enche a cara de laranjinha às sextas-feiras. Após juntar algumas mesas, para poder acolher todo mundo, e levar os garçons ao grau extremo da loucura com tanta gente pedindo alguma coisa ao mesmo tempo, começam a aparecer os “bêbados cultos”. Surgem então conversas, às vezes monólogos, sobre filmes iranianos, música clássica da República Tcheca, Comunismo vs. Nazismo, homofobia, racismo, luta de classes, movimentos sociais, quem pegou quem na última festa, quando vai rolar a próxima festa, quem vai pagar a conta, etc. Depois de perceber que já fui mijar aproximadamente dez vezes, e ver cinco dedos na mão do Lula em uma foto no celular de alguém, chego a conclusão que é hora de ir pra casa.
De volta ao terminal, agora bem menos eufórico, tomado pelo sono e pelo cansaço, me contento em poder ao menos ir sentado no ônibus, e até escolher a poltrona, já que a essa hora da madrugada, você só encontra bêbados, andarilhos, mulheres da vida, e estudantes embriagados de laranjinha nas ruas. Ou seja, são poucos os que utilizam o transporte coletivo.
Chego em casa, com força física e psicológica apenas pra passar margarina em um pedaço de pão amanhecido e engolir aquilo com um gole de café preto, amargo e frio. Para um bêbado, isso é caviar com champagne. Enfim, chega a hora mais esperada depois de um dia cansativo e gratificante, a de dormir. Adormecer e ter sonhos eróticos com a Angelina Jolie. Descançar o corpo e a mente, pois daqui uma semana, é sexta-feira.