terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Madrugada

       O vento soprava forte, o frio era intenso, a madrugada se aproximava lentamente. Sentado em algum banco de uma praça qualquer, na companhia de uma garrafa de cerveja e um maço de cigarros, a avistei. Cabelos negros e compridos, pele escura, olhos profundos, e o andar mais hipnotizante que já vi. O silêncio da minha noite foi quebrado. Senti um frio correndo em minhas veias. Minhas mãos se puseram trêmulas sobre o banco, como se procurassem apoio para o restante do corpo. Foi quando os passos dela foram diminuindo o ritmo e tomaram minha direção. A essa hora o suor já encharcava minha testa. Em questão de segundos aquela que me parecia miragem se aproximou e perguntou se podia sentar ali. Apenas balancei a cabeça em sinal de que não haveria problema. Seu perfume tomou conta do ambiente. Era doce, provocante e me embriagou completamente. Minha mente parecia borbulhar com tantos pensamentos, que variavam da pureza ao canalhismo em milésimos. Pensei em tentar uma conversa. Fui interrompido em meu plano quando ela abriu sua bolsa e puxou um livro. Seu cabelo balançava com o vento. Molhava a ponta dos dedos nos lábios para passar as páginas. Balançava os pés levemente, como se acompanhasse o ritmo de uma dança. Parecia muito concentrada. Devorava as palavras em seu silêncio particular. Quase uma hora se passou, quando fechou o livro, guardou em sua bolsa, e seus pés pararam de balançar. Levantou. Encostou sua mão em meu ombro, sorriu de forma tímida e me agradeceu pela companhia. Virou e foi embora. Fiquei estático, sem entender sua atitude. Fiquei guardando sua partida, aos poucos aquele perfume foi se esvaindo. A madrugada ganhou força e trouxe junto a ela um frio ainda mais intenso. Enfim retomei a lucidez, acendi um cigarro e segui meu caminho. Nunca mais a vi.