sexta-feira, 10 de junho de 2011

O telefone no guardanapo

       Um velho bêbado, vestindo uma camisa de algodão surrada, escorado no balcão. Um casal de adolescentes tomando vinho vagabundo. Uma prostituta maltrapilha, esperando uma cerveja por dez minutos de sexo mal feito. Esse era o cenário que meus olhos percorriam dentro daquele porão chamado de bar. O dono da espelunca era um gordo sujo. Suas roupas certamente não viam água há anos. Seus dentes eram marrons. Parecia personagem de algum filme de terror. Pedi uma cerveja. Acendi um cigarro. Fazia muito frio. Meu casaco havia se tornado um saco de gelo, congelando minha alma. Era uma noite de dezembro. Nevava la fora. Quando o tédio ameaçou me propor companhia, uma mulher entrou no bar. Sentou ao meu lado e pediu uma cerveja. Era magra como um cachorro faminto. Seu cabelo era loiro e brilhava com luz própria dentro daquele moquifo escuro. Sua boca era carnuda. Tinha dentes bonitos. Vestia um sobretudo marrom que mais parecia um pedaço de carpete. O gordão atrás do balcão mal serviu a cerveja e ela virou de uma só vez. Abriu a bolsa e revirou tudo que havia dentro. Era sua ultima economia. Pagou o que devia e se levantou para ir embora. Ofereci uma bebida. Ela sem pensar aceitou e sentou-se novamente. Pedi duas cervejas. Ela apenas balançou a cabeça em sinal de agradecimento. Bebeu novamente de uma só vez. De repente se levantou, me deu um guardanapo com seu número e foi embora. Ela jamais atenderia aquele maldito telefone.