sexta-feira, 10 de junho de 2011

O telefone no guardanapo

       Um velho bêbado, vestindo uma camisa de algodão surrada, escorado no balcão. Um casal de adolescentes tomando vinho vagabundo. Uma prostituta maltrapilha, esperando uma cerveja por dez minutos de sexo mal feito. Esse era o cenário que meus olhos percorriam dentro daquele porão chamado de bar. O dono da espelunca era um gordo sujo. Suas roupas certamente não viam água há anos. Seus dentes eram marrons. Parecia personagem de algum filme de terror. Pedi uma cerveja. Acendi um cigarro. Fazia muito frio. Meu casaco havia se tornado um saco de gelo, congelando minha alma. Era uma noite de dezembro. Nevava la fora. Quando o tédio ameaçou me propor companhia, uma mulher entrou no bar. Sentou ao meu lado e pediu uma cerveja. Era magra como um cachorro faminto. Seu cabelo era loiro e brilhava com luz própria dentro daquele moquifo escuro. Sua boca era carnuda. Tinha dentes bonitos. Vestia um sobretudo marrom que mais parecia um pedaço de carpete. O gordão atrás do balcão mal serviu a cerveja e ela virou de uma só vez. Abriu a bolsa e revirou tudo que havia dentro. Era sua ultima economia. Pagou o que devia e se levantou para ir embora. Ofereci uma bebida. Ela sem pensar aceitou e sentou-se novamente. Pedi duas cervejas. Ela apenas balançou a cabeça em sinal de agradecimento. Bebeu novamente de uma só vez. De repente se levantou, me deu um guardanapo com seu número e foi embora. Ela jamais atenderia aquele maldito telefone.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Euforia Mental: dois anos de patifaria

       No último dia 11 este espaço de patifaria literária completou dois anos de vida. Percebo hoje que a mistura de estressem, mau humor, correria e álcool está afetando minha mente de forma devastadora, tendo em vista que esqueci completamente dessa data tão querida. Enfim, como não adianta chorar o whisky derramado, escrevo agora, duas semanas depois, o post de aniversário de dois anos do Euforia Mental, o blog menos visitado da web. Pensei em escrever alguma coisa, mas ando quase sem inspiração ultimamente. Então, como fiz no aniversário de um ano, deixo com vocês uma música que vem me acompanhando nos últimos dias.




       Que hoje seja um dia de boas conversas, amigos e tudo o que te faz melhor. Obrigado aos poucos que acompanham o blog, comentam e incentivam a continuar. De coração!

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Madrugada

       O vento soprava forte, o frio era intenso, a madrugada se aproximava lentamente. Sentado em algum banco de uma praça qualquer, na companhia de uma garrafa de cerveja e um maço de cigarros, a avistei. Cabelos negros e compridos, pele escura, olhos profundos, e o andar mais hipnotizante que já vi. O silêncio da minha noite foi quebrado. Senti um frio correndo em minhas veias. Minhas mãos se puseram trêmulas sobre o banco, como se procurassem apoio para o restante do corpo. Foi quando os passos dela foram diminuindo o ritmo e tomaram minha direção. A essa hora o suor já encharcava minha testa. Em questão de segundos aquela que me parecia miragem se aproximou e perguntou se podia sentar ali. Apenas balancei a cabeça em sinal de que não haveria problema. Seu perfume tomou conta do ambiente. Era doce, provocante e me embriagou completamente. Minha mente parecia borbulhar com tantos pensamentos, que variavam da pureza ao canalhismo em milésimos. Pensei em tentar uma conversa. Fui interrompido em meu plano quando ela abriu sua bolsa e puxou um livro. Seu cabelo balançava com o vento. Molhava a ponta dos dedos nos lábios para passar as páginas. Balançava os pés levemente, como se acompanhasse o ritmo de uma dança. Parecia muito concentrada. Devorava as palavras em seu silêncio particular. Quase uma hora se passou, quando fechou o livro, guardou em sua bolsa, e seus pés pararam de balançar. Levantou. Encostou sua mão em meu ombro, sorriu de forma tímida e me agradeceu pela companhia. Virou e foi embora. Fiquei estático, sem entender sua atitude. Fiquei guardando sua partida, aos poucos aquele perfume foi se esvaindo. A madrugada ganhou força e trouxe junto a ela um frio ainda mais intenso. Enfim retomei a lucidez, acendi um cigarro e segui meu caminho. Nunca mais a vi.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Ilúcido

       Nada mais fiel que a noite. Só ela me traz alívio. As ruas vazias possuem sua própria música. Tropeço em meus próprios desafios. Levanto. Sigo sozinho por um caminho sem destino. Penso. Não penso. Planejo. Vivo. Sobrevivo. Meus passos me levam hora para algum lugar, hora para lugar nenhum. Minha companhia é uma garrafa de cerveja. A última. Outras ficaram pelas calçadas por onde passei. Vazias. Quebradas. Partes de uma breve história noturna. Partes de nada. Um tanto embriagado. Não tanto como queria. Não quero encontrar ninguém. A solidão faz parte da minha loucura. Todos fazem parte de uma grande loucura. Em maior ou menor grau. Mas fazem. Todos nós rumamos para o mesmo buraco. Por isso beba. Corra. Grite. Procure seu prazer. Seja seu próprio prazer. A vida é uma só. Geralmente curta. Viver demais é chato pra caralho. Os grandes seres humanos morrem no auge de sua loucura. Melhor. Retomar a lucidez deve ser foda.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Game over

       Quarta-feira, 2h30 da madrugada. Puto com algumas coisas que vem rolando. Lembrei que tinha um blog. Resolvi escrever alguma porcaria. Ta aí.

       Vinte e um anos. Pouco tempo de vida. Não conheço muito bem o mundo. Desconheço as pessoas. Andei por poucos lugares. Mesmo assim, minha história preencheria algumas páginas de um livro. Não sou de planejar o futuro. Nem de relembrar o passado. Mas o presente não existe sem ambos. Não pretendo viver por muito tempo. Mas se me for permitido quero realmente viver. Sabores. Cheiros. Formas. Sons. Emoções. Letras. Um baralho de sensações pronto pra ser trucado. Bebidas. Mulheres. Adrenalina. Não é papo de pseudo-alternativo criado pela avó. Mas pra morrer feliz é preciso correr o risco. Pra morrer basta estar vivo. Pra viver basta entender que amanhã pode estar morto. Aproveite. Não faça planos. Apenas viva. Não prive suas vontades. Não use paraquedas. Apenas pule. Porra! Qual o motivo de estarmos aqui? Em uma terra onde mentir trás dinheiro, minta. Seja egoísta. Pense em você antes de tudo. Pensar nos outros é burrice hoje em dia. Entre no jogo. Mas entre pra ganhar. Se não é game over.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Como Ser Um Grande Escritor

       Curta-metragem produzido por Guilherme Petry, aluno de Publicidade e Propaganda da UFRGS, para o 17° Gramado Cine Vídeo (2009). Baseado no conto do mestre Charles Bukowski, o curta é rápido e sujo, ou seja, muito bom!



"Lembre-se: não existe um cu nesse mundo que vale mais do que cem pila"

terça-feira, 6 de julho de 2010

Defecando pela mente

       Ultimamente, perguntas sem respostas adornam meu cérebro transtornado por malícia e insanidade. Me questiono sobre o futuro do ser humano, e nunca chego a uma conclusão, nem mesmo perto de alguma. Amores platônicos, rancores recíprocos, ódio mútuo, padres pedófilos, enfim, uma porção de cartas fora do baralho. Será mesmo o Apocalipse? Os quatro cavaleiros estão mesmo descendo entre as nuvens? Os selos estão mesmo se abrindo? Não, não pode ser. Mas se não estamos vivendo o Apocalipse o que podemos tomar como resposta para o buraco tomado por bosta em que estamos se enfiando? Não sei, mas às vezes acho que o homem só não come merda porque não vem embalada.

       Não que eu queira ver a humanidade em paz e colhendo flores antes do café da manhã. Não teria graça alguma viver cercado de pessoas felizes fazendo sexo por amor. Só quero entender a mente do homem. Quero entender a minha mente fétida. Sei que nunca vou conseguir isso, mas essas perguntas me inquietam, fazem com que eu me debruce sobre uma mesa de bar e vomite até cair sem forças para me levantar.

       Queria escrever um livro sobre qualquer coisa, mas não sou bom o suficiente nem para uma marginália. Queria produzir um filme sobre prostitutas do leste europeu, mas não tenho dinheiro nem pra contratá-las, quem dirá filmá-las. Enfim, queria algo arrebatador, que fosse capaz de me tirar deste mundo de dúvidas inúteis. Enquanto não acho minha cura, continuo distraindo minha mente com pensamentos sacanas e carnais. Quem sabe uma noite de amor uma freira seja a solução? Sempre quis fazer isso, mas o mais perto que cheguei foi uma coroinha. Saudades daquele confessionário.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Ed Motta e KL Jay - Black Man (Stevie Wonder)

Homenagem aos 60 anos de Stevie Wonder, completados no ultimo dia 13 de maio. Paguei um pau!

domingo, 4 de julho de 2010

Noite

       Tênis, calça jeans, uma camisa surrada e um moletom com o capuz cobrindo a cabeça. Ele era um dos poucos que se arriscavam a caminhar nas ruas tomadas pela noite gelada e silenciosa. Sem um destino em mente, andava a procura de alguma emoção. Acendeu um cigarro, e a fumaça se confundia com a neblina. Passos curtos e despretensiosos, afinal, não sabia exatamente seu destino, apenas caminhava sem direção. O fone de ouvido embalava seus pensamentos e reproduzia a trilha sonora daquela noite. Caminhando durante quase uma hora sem encontrar nada nem ninguém, parou em um botequim e pediu uma dose de whisky. Alguns minutos se passaram e quando pensava em ir embora teve seu silêncio particular interrompido por uma voz doce e que se misturava a um perfume envolvente.

- Me empresta o fogo? (ela)
- Claro! (ele)
- Muito obrigada. Posso me sentar aqui?
- Por favor. Fique a vontade.
- Prazer, meu nome é Clara.
- Prazer, Clara. Me chamo João.
- Mas me diga o que faz uma moça elegante como você em um boteco como esse numa hora dessas?
- Na verdade não programei vir para cá. Moro a duas quadras daqui, e saí para pegar um ar. Passei na frente, e resolvi parar e beber alguma coisa.
- Também saí sem rumo. A diferença é que estou caminhando a mais ou menos uma hora, ou seja, estou bem longe de casa. (risos)
- Pois então. Estou pensando em comprar um vinho, beber loucamente e depois transar a noite inteira. O que você acha?
- Acho uma ótima ideia. Só preciso comprar cigarro e então podemos ir.
- Tudo bem. Compre dois maços, fumo feito louca depois de transar.
- Ok.

E a noite seguiu gelada e silenciosa lá fora.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Uma vida em seis meses

       Lá se vai mais um semestre desses quase vinte e um anos de vida. Posso afirmar, sem dúvidas, que este foi um dos mais agitados, conturbados, decepcionantes, emocionantes, difíceis e felizes. Seis meses permeados por um misto de sensações boas e ruins. Eu, que nunca fui de me preocupar com as consequências de meus atos, nesses últimos meses acabei refletindo sobre algumas coisas.

     Entrei para o terceiro semestre de Jornalismo sem saber ainda se era isso mesmo que queria, porém, terminei - aos trancos e barrancos - com a sensação de dever cumprido e de que sim, é isso mesmo. Foda-se o fato de que dificilmente ficarei rico, ou o de que terei que trabalhar feito um puto para pagar minha dignidade. Sei que vou ouvir meu pai reencarnando Tim Maia e dizendo "eu bem que te avisei" quando me ver individado e sem grana, mas me apego no gosto pelo que faço, e pelo que farei, provavelmente, pelo resto da minha vida medíocre.

    Claro que o mar não se faz calmo diariamente, e assim como ele, esses últimos meses balançaram pra la e pra cá, trazendo também algumas decepções. Amigos que viram as costas quando você mais precisa, pessoas que te decepcionam quando você menos espera, parentes que te mandam a merda quando você acha que eles vão estar ali para te puxar do fundo do poço. Mas é com tudo isso que você aprende que a vida está aí pra testar sua coragem e inteligência. Por isso, quando achar que a unica saída e se internar dentro de um quarto ouvindo música fossa, pense o quão débil mental você está sendo e corra para o bar mais próximo para encher sua cara vadia de álcool. 

     Nessas duas décadas de vida - parece pouco mas não é, acreditem - acho que nunca tive um período tão ímpar como esse. Conheci novos lugares, novas pessoas, pessoas essas que se mostraram muito melhores do que pareciam ou piores do que demonstravam ser, e com tudo isso recriei conceitos e quebrei padrões que havia estabelecido há muitos anos.

     Depois de tudo isso, só uma coisa posso concluir com frieza e convicção: não me arrependo de nada do que fiz, por mais que às vezes pareça. Se arrepender é para os fracos, se orgulhe de tudo que você faz, repense, não cometa os mesmos erros, mas jamais se arrependa dos seus atos, sejam eles o mais podre e inútil possível.