Tênis, calça jeans, uma camisa surrada e um moletom com o capuz cobrindo a cabeça. Ele era um dos poucos que se arriscavam a caminhar nas ruas tomadas pela noite gelada e silenciosa. Sem um destino em mente, andava a procura de alguma emoção. Acendeu um cigarro, e a fumaça se confundia com a neblina. Passos curtos e despretensiosos, afinal, não sabia exatamente seu destino, apenas caminhava sem direção. O fone de ouvido embalava seus pensamentos e reproduzia a trilha sonora daquela noite. Caminhando durante quase uma hora sem encontrar nada nem ninguém, parou em um botequim e pediu uma dose de whisky. Alguns minutos se passaram e quando pensava em ir embora teve seu silêncio particular interrompido por uma voz doce e que se misturava a um perfume envolvente.
- Me empresta o fogo? (ela)
- Claro! (ele)
- Muito obrigada. Posso me sentar aqui?
- Por favor. Fique a vontade.
- Prazer, meu nome é Clara.
- Prazer, Clara. Me chamo João.
- Mas me diga o que faz uma moça elegante como você em um boteco como esse numa hora dessas?
- Na verdade não programei vir para cá. Moro a duas quadras daqui, e saí para pegar um ar. Passei na frente, e resolvi parar e beber alguma coisa.
- Também saí sem rumo. A diferença é que estou caminhando a mais ou menos uma hora, ou seja, estou bem longe de casa. (risos)
- Pois então. Estou pensando em comprar um vinho, beber loucamente e depois transar a noite inteira. O que você acha?
- Acho uma ótima ideia. Só preciso comprar cigarro e então podemos ir.
- Tudo bem. Compre dois maços, fumo feito louca depois de transar.
- Ok.
E a noite seguiu gelada e silenciosa lá fora.